terça-feira, julho 25, 2006

Mestre, Soneca e Dunga

Recentes declarações do novo técnico da Seleção Brasileira já permitem conhecer qual será sua doutrina.

Dunga disse, em entrevista ao Jornal da Tarde: "O Telê foi o principal responsável pela seleção não ter sido campeã. Nas Eliminatórias treinou com um time, e a dez dias do início da Copa mudou um jogador que alterou toda a maneira tática do Brasil. Os jogadores ficaram desestabilizados e apavorados com isso. O Brasil não foi campeão por incoerência do treinador". Sobre Parreira, disse: "O Parreira está sendo coerente, pois está repetindo o mesmo time utilizado durante as Eliminatórias. Ele não vai repetir o mesmo erro de gente que é endeusada e perdeu uma Copa do Mundo por incoerência."

O apelido de Telê Santana era Mestre. Assim como os anões, Mestre era menos simpático que Dunga, porém, além de mais culto, sabia falar. Já Parreira merece a alcunha de Soneca.

Dunga não sabe (ou esqueceu, não sei o que é pior), mas o Brasil venceu os quatro primeiros jogos da Copa da Espanha. Não parece que isso desestabilizou os jogadores, ao menos que eles tenham sentido isso apenas na quinta partida. Dunga parecia não acreditar que o time imutável do Parreira não seria campeão neste ano. Por fim, ele deveria se lembrar ou não ter esquecido que a seleção campeã em 1994 foi modificada no meio da competição. Os tetracampões não ficaram desestabilizados e foi esta mudança que lhe rendeu a braçadeira e alguma notoriedade no futebol internacional.

Dunga prefere Parreira a Telê Santana. Prefere o time de 2006 ao de 1982. As críticas ao Mestre devem-se mais ao fato de Dunga não ter sido (com justiça) convocado para a Copa de 86. Os elogios ao Soneca refletem sua gratidão pela (injusta para muitos) convocação para a Copa de 94. Pelo visto, as relações pessoais prevalecerão sobre as questões técnicas. Será a seleção dos amigos do Dunga e não uma verdadeira Seleção Brasileira de futebol.

5 comentários:

Anônimo disse...

e o nosso futebol vai ficando com cara de bela adormecida

Yvan Lima disse...

Lucas, tenho que tecer contra-comentários.

1. Primeiro, quem acompanhou os comentários do Dunga como comentarista da Band, sabe que ele fez várias críticas à atual seleção, ao longo dos jogos, algumas muito coerentes, diga-se de passangem.

2. Se é para entrar no mérito da seleção de 82, já que o Dunga não lhe é parâmetro, sugiro a leitura das crônicas do João Saldanha lançadas em livro "Trauma da bola, a Copa de 82" sobre aquele Brasil que ganhou roubado da URSS, passou pelas "potências" Nova Zelândia e Escócia, fez um único grande jogo contra a Argentina (levando-se em consideração que, contra los hermanos, não há qualquer parâmetro), e caiu num jogo que não dominou a Itália como alguns tentam se enganar até hoje.

3. Em 86, outra campanhã apenas razoável, vitória (mais uma vez roubada), contra a Espanha, sofremos contra a poderosa Argélia. DOis outros jogos melhores, contra a Irlanda do Norte e contra uma decadente Polônia, caindo num bom jogo contra a França.

Sinceramente, na seleção brasileira, Tele Santana nunca mostrou nada demais. Nada que justifique ser chamado de "mestre", pois ser culto e saber falar, não valem tanto assim, senão Oswaldo de Oliveira seria o melhor técnico do Brasil. Dessa seleção de 82, todos falam muito, mas ela não fez tanto assim como dizem por aí.

Aliás, se é pra falar de jogadores que foram e que não foram. Porque o Telê nunca explicou porque deixou de fora o Leão que era o melhor goleiro do Brasil disparado? E opção pelo limitadíssimo Serginho Chulapa? Sem contar que nosso mestre foi um dos primeiros a tirar o ponta "Bota ponta Telê?" Já que com o Telê só valia a seriedade e não tinha essa de relações pessoais, gostaria de saber porque o Renato Gaúcho foi cortado da seleção de 86 por entrar na concetração pela porta da frente, depois de ir pra putaria, enquanto outros jogadores que estavam com ele, pularam o muro e não foram cortados. Qual o critério objetivo do caso? Sim, Tele Santana colecionou incoerências pela vida, mesmo, tendo tanto sucesso como treinador de times, não da Seleção (e material humano ele teve!).

4. Quem discute a importância do Dunga para a seleção de 94, assistiu de menos aos jogos e ouviu demais a imprensa. Se são muitos ou não, não importa, recomendo que assistam novamente àqueles jogos e comecem a reparar no jogador que esteve entre os melhores passadores, melhores desarmadores, melhores lançadores e que deu mais passes pra gol que o tal de Ronaldinho Gaúcho, sendo só um tão limitado Dunga. E nem estou falando da importância extra-campo do capitão. Talvez esses muitos que acharam injusta a convocação do Dunga sejam aqueles que não viram o baile que o Gilberto Silva tomou do Zidane no ultimo 1º/07, ou que sintam saudades daquele passe perfeito do Toninho Cerezo pro Paolo Rossi.

5. Finalmente, basear-se em um único meio jornalístimo não é uma boa maneira de se começar a definir verdades como qual será a doutrina do novo técnico.

Lucas disse...

Sim, caro Yvan,

Muito do que você falou sobre Telê Santana é verdade. Tudo se aplicaria também a Carlos Alberto Parreira (campanha nas Copas, preferências por jogadores, incoerências (principalmente), etc.).

Dunga defendeu Parreira, se não por dever de amigo, pela filosofia adotada. O dever de amigo não pode prevalecer na escalação da Seleção, embora não se possa negar o direito dele de utilizar seus critérios pessoais. Porém, a doutrina de manter o time das eliminatórias é muito arriscada, principalmente porque o último jogo é quase um ano antes do início da Copa. Muita coisa muda em um ano, principalmente se considerar o leque de opções existentes.

A Seleção de 82 pode ter perdido porque foi mal escalada, não jogou bem, o goleiro era ruim, Cerezo era grosso. Mas não foi porque o time não era o mesmo das eliminatórias...

Por fim, se Dunga for um técnico tão bom como foi Falcão, cumprirá sua missão.

marcio cenzi disse...

O Brasil em Copas com Dunga:
10/06/90 - 2x1 Suécia
16/06/90 - 1x0 Costa Rica
19/06/90 - 1x0 Escócia
24/06/90 - 0x1 Argentina
20/06/94 - 2x0 Rússia
24/06/94 - 3x0 Camarões
28/06/94 - 1x1 Suécia
04/07/94 - 1x0 EUA
09/07/94 - 3x2 Holanda
13/07/94 - 1x0 Suécia
17/07/94 - 0x0 Itália
10/06/98 - 2x1 Escócia
16/06/98 - 3x0 Marrocos
23/06/98 - 1x2 Noruega
27/06/98 - 4x1 Chile
03/07/98 - 3x2 Dinamarca
07/07/98 - 1x1 Holanda
12/07/98 - 0x3 França

o "jogador que esteve entre os melhores passadores, melhores desarmadores, melhores lançadores e que deu mais passes pra gol que o tal de Ronaldinho Gaúcho" fez quantos passes para gol nas finais que disputou?, parou Zidane e Maradona?, ainda se lembra dos dribles que tomou de um menino dentuço no grenal?, foi alguma vez pretendido por milan, barcelona, real, juventus?, ganhou algum campeonato paulista, brasileiro, libertadores?
Dunga simboliza o corporativismo da CBF. De Zagallo, que queimou Zé Elias para não levá-lo à Copa. Em 90, o bom volante era Alemão, depois foi Mauro Silva, depois César Sampaio.
Dunga pode escrever o livro "Os jogadores que vi jogar". Pode ser vencedor, sim. Espero que não.

Anônimo disse...

bom comeco