sexta-feira, setembro 18, 2009

Memória

Livros sobre futebol feitos no Brasil são quase sempre dispensáveis. Um exercício de elogios desnecessários. Poucos têm a coragem de investigar seriamente as ligações do jogo com as conjunturas nacionais. As exceções ficam ali com Mario Filho e Anatol Rosenfeld. Há também um ou outro bom ensaio sobre as características do ludopédio, suas raízes históricas e sociais. Nesse caso, ponto para Hilário Franco Jr. De resto, não se escreve nada que quem goste de futebol não saiba, nem que quem não goste queira saber.
Interessante, nesse cenário, é o último livro de Boris Fausto. O crime do Restaurante Chinês leva o consagrado historiador a procurar suas memórias de infância e juventude.
Num passado recente e esquecido, um assassinato mobiliza a cidade de São Paulo. Boris Fausto acerta contas com suas lembranças e trata das questões que envolvem a apuração policial e a formação da opinião popular.
Imigrantes, carnaval de rua, rotina,transformação urbana, homens de terno e chapéu. Tudo isso aparece na construção da história. É uma narrativa forense romanceada.
E o futebol nisso tudo?
Aí aparece o gol de Fausto: perceber que o jogo permeia praticamente todos os níveis da convivência brasileira. E mais não se deve falar.
Não é um livro vigoroso, revelador ou pungente.
Mas, escrito com esmero e sinceridade, revela um óbvio um pouco escondido.
O que é um grande mérito.

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