Pelé é o Rei mas é o Garrincha quem mora no nosso Coração

Li o Capítulo sobre o Garrincha, no livro Futebol: The Brazilian Way of Life, na semana passada e quarta o Professor Marcos de Lingüística falou rapidamente a classe sobre a classificação que Federico Fellini montou com os palhaços.

O cineasta italiano colocou que:

"(...)Com efeito, as duas figuras são o clown branco e o augusto. O primeiro é a elegância, a graça, a harmonia, a inteligência, a lucidez, que se propõem de forma moralista, como as situações ideais, únicas, as divindades indiscutíveis. Eis que em seguida surge o aspeto negativo da questão. Pois dessa forma o clown branco se converte em Mãe, Pai, Professor, Artista, o Belo, em suma, no que se deve fazer.

Então o augusto, que devia sucumbir ao encanto dessas perfeições, se não fossem ostentadas com tanto rigor, se rebela. Vê as lantejoulas cintilantes, mas a vaidade com que são apresentadas as torna inalcançáveis. O augusto, que é a criança que faz sujeira em cima, se revolta ante tanta perfeição, se embebeda, rola no chão e na alma, numa rebeldia perpétua.

Essa é a luta entre o orgulhoso culto da razão, onde o estético é proposto de forma despótica, e o instinto, a liberdade do instinto.

O clown branco e o augusto são a professora e o menino, a mãe e o filho arteiro, e até se podia dizer que o anjo com a espada flamejante e o pecador. São, em suma, duas atitudes psicológicas do homem, o impulso para cima e o impulso para baixo, divididos, separados." (Trecho do cineasta traduzido no sítio do Grupo Tempo)

Quem quiser assistir o filme, recomendo.

Mas, voltando ao tema do blogue, quando o Professor Marcos discorria sobre os dois palhaços, um perfeito e superior e outro errático e simpático, lembrei-me dos dois craques brasileiros. Nunca vi nenhum dos dois jogar, mas as histórias dos dois grandes jogadores são me passadas com tanta intensidade pelas tevês, pelos filmes, pelos artigos, que as vezes me sinto como se tivesse assistido aos dois jogarem.

Pelé foi o maior, tem uma história de sucesso que impõe respeito e distância, mas não é uma personagem que cativa. Quem aguentou os comentários dele nas transmissões de uma Copa dessas ai que passaram? Ele é olímpico para este mortal aqui.

Garrincha é uma personagem literária trágica. Sua grandeza e sua perdição o tiram do horizonte dos homens comuns. Ele ascendeu aos céus e viveu no inferno antes da sua morte.

Amanhã começa a Virada Cultural aqui em São Paulo, vou em várias apresentações. No entanto, por mais que as obras artísticas sejam expressivas, intensas ou belas, muita partida de futebol tem mais força expressiva, é mais intensa que um filme ou uma peça. Quem conhece a história do futebol brasileiro ou, simplesmente, acompanha a algumas partidas já sabe sobre o que trata a obra cinematográfica I Clowns sem vê-la.

Abraços