Algo que me incomoda na crônica esportiva é a falta de imaginação.
Peguem "A pátria em chuteiras", de Nélson Rodrigues. A delícia do texto faz com que você acredite que todo jogo resenhado tenha sido um épico, um momento único e inigualável na história do esporte.
Na televisão, a situação é alarmante: ou ficamos com os histriônicos apresentadores de televendas ou com os sábios analistas de combinações numéricas.
Quando tentam fazer algo diferente, resta-nos a pretensão poética de Pedro Bial ou Armando Nogueira.
Será tão difícil assim perceber no esporte a sua simbologia? Será impossível vislumbrar os exemplos que um jogo ou um lance pode trazer?
Fiquemos com o mais emblemático exemplar dos últimos tempos: a cabeçada de Zidane.
Os cordatos cronistas esportivas quase se estapearam para decidir se ação se justificava ou não, se Zidane era um canalha ou não.
Ora, será tão difícil perceber aí o enredo de "Antígona"? A dramaticidade da ação justa ainda que ilegal?
São todos cegos ou querem se fazer de. É mais fácil contar as expulsões anteriores do francês.
Juca Kfouri ainda tentou relacionar a cena com o texto de Camus sobre o suicídio, mas a referência parecia se dever mais ao fato de Camus ter um dia sido goleiro e de ambos terem ancestrais argelinos.
Pelo menos, foi uma tentativa.
Um comentário:
Hoje eu folgo.
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