Os estaduais começam neta semana.
Enfraquecidos, servem de aquecimento para a temporada. Mas nem sempre foi assim.
As grandes torcidas se formaram na rivalidade local. O Corinthians, por exemplo, levou 80 anos para ser campeão nacional. Os ídolos anteriores a Neto surgiram em disputa com o Santos, o Palmeiras, o São Paulo. Mais do que isso, em confrontos com Ponte, Juventus, América, Comercial.
A grande imprensa sabia disso. A Libertadores de 92 foi transmitida pelo consórcio OM-Gazeta, pois não interessava às grandes redes.
Quando penso no Paulistão, lembro dos sábados em que ligava a tevê para ouvir Sílvio Luiz. Ciente da desnecessidade do narrador, ele improvisava, criava metáforas, falava sobre a história da cidade, conversava. Como se estivesse realmente na sala e assistisse ao jogo com o espectador. Para driblar a modorra do jogo, desviava a atenção para o hipotético tira-gosto que dividia como Juarez Soares: “Deixa uma coxinha pra mim, China”. E quando finalmente acontecia o que interessava, ele dizia: “Solte o grito da garganta!”
Houve uma partida em Itu em que Telê foi expulso e, assistindo ao jogo nas arquibancadas, era hostilizado. Sílvio Luiz determinou ao seu repórter que levasse o treinador à cabine da Bandeirantes e desafiou: “Quero ver quem é homem de mexer com o Telê aqui.” Nota: seu companheiro de transmissão e Telê não eram propriamente amigos.
Mesmo para anunciar os outros programas da emissora, ele improvisava. Às vezes, não dava certo. Como na impagável seqüência em que ele pergunta: “E aí, Bigode, você não gostaria de estar Na cama com Madonna?” E Rivellino, sincero: “Não”.
Aliás, o protocolo não era seu forte. Longe da subserviência dissimulada das equipes esportivas, ele se referia a Luciano do Valle, chefe do pessoal do Show do Esporte, como o “Seu Bolacha”. Ou, ainda, nas transmissões do Italiano, quando aparecia uma mulher bonita: “Que saúde, hein, minha senhora?”
Com a morte de Januário de Oliveira ("Cruel", "Sinistro") e o acidente de Osmar Santos (o maliciosamente repetido até hoje “Pimba na gorduchinha!”), resta a quem gosta da narração lúdica, procurar uma transmissão de Sílvio Luiz. Infelizmente, não será do Paulistão. No estadual, estamos condenados a locutores que falavam o visível cada vez mais alto e, entre uma obviedade e outra, despejam a programação e a folha de antecedentes dos jogadores.
Durante a Copa, deliciei-me ao assistir a um jogo narrado por ele: os nomes pronunciados sem nenhum rigor, os comentários, a repetição “Eh, Deco, hein”.
No meio do transmissão, meu primo de doze anos disse: “Que cara chato!”
Tentei explicar, mas não convenci. Para a geração do futebol interativo, a brincadeira se perdeu em algum lugar entre o gogó da ema e o pé da cajarana esquerda.
Enfraquecidos, servem de aquecimento para a temporada. Mas nem sempre foi assim.
As grandes torcidas se formaram na rivalidade local. O Corinthians, por exemplo, levou 80 anos para ser campeão nacional. Os ídolos anteriores a Neto surgiram em disputa com o Santos, o Palmeiras, o São Paulo. Mais do que isso, em confrontos com Ponte, Juventus, América, Comercial.
A grande imprensa sabia disso. A Libertadores de 92 foi transmitida pelo consórcio OM-Gazeta, pois não interessava às grandes redes.
Quando penso no Paulistão, lembro dos sábados em que ligava a tevê para ouvir Sílvio Luiz. Ciente da desnecessidade do narrador, ele improvisava, criava metáforas, falava sobre a história da cidade, conversava. Como se estivesse realmente na sala e assistisse ao jogo com o espectador. Para driblar a modorra do jogo, desviava a atenção para o hipotético tira-gosto que dividia como Juarez Soares: “Deixa uma coxinha pra mim, China”. E quando finalmente acontecia o que interessava, ele dizia: “Solte o grito da garganta!”
Houve uma partida em Itu em que Telê foi expulso e, assistindo ao jogo nas arquibancadas, era hostilizado. Sílvio Luiz determinou ao seu repórter que levasse o treinador à cabine da Bandeirantes e desafiou: “Quero ver quem é homem de mexer com o Telê aqui.” Nota: seu companheiro de transmissão e Telê não eram propriamente amigos.
Mesmo para anunciar os outros programas da emissora, ele improvisava. Às vezes, não dava certo. Como na impagável seqüência em que ele pergunta: “E aí, Bigode, você não gostaria de estar Na cama com Madonna?” E Rivellino, sincero: “Não”.
Aliás, o protocolo não era seu forte. Longe da subserviência dissimulada das equipes esportivas, ele se referia a Luciano do Valle, chefe do pessoal do Show do Esporte, como o “Seu Bolacha”. Ou, ainda, nas transmissões do Italiano, quando aparecia uma mulher bonita: “Que saúde, hein, minha senhora?”
Com a morte de Januário de Oliveira ("Cruel", "Sinistro") e o acidente de Osmar Santos (o maliciosamente repetido até hoje “Pimba na gorduchinha!”), resta a quem gosta da narração lúdica, procurar uma transmissão de Sílvio Luiz. Infelizmente, não será do Paulistão. No estadual, estamos condenados a locutores que falavam o visível cada vez mais alto e, entre uma obviedade e outra, despejam a programação e a folha de antecedentes dos jogadores.
Durante a Copa, deliciei-me ao assistir a um jogo narrado por ele: os nomes pronunciados sem nenhum rigor, os comentários, a repetição “Eh, Deco, hein”.
No meio do transmissão, meu primo de doze anos disse: “Que cara chato!”
Tentei explicar, mas não convenci. Para a geração do futebol interativo, a brincadeira se perdeu em algum lugar entre o gogó da ema e o pé da cajarana esquerda.
Um comentário:
O Januário de Oliveira morreu? Quando? Ouvi algumas histórias dele... como amputar as pernas e estar em Goiás, estar narrando jogos na Bahia...
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