Domingo, dia 04, meu pai fez 79. A vantagem de ser filho de um senhor provecto (gostou dessa, Sidarta?) é ter muita história para ouvir.
Talvez por isso, sempre me interessei no que pessoas longevas têm para dizer. Todas as oportunidades que tive para escutar ou ler gente como Manoel de Barros, Mário Lago, Leonel Brizola e Paulo Vanzolini, eu aproveitei da melhor forma. Cada um deles testemunhou várias mudanças em suas áreas e é interessante saber como cada um as percebeu.
Como quase todo moleque, aprendi a gostar de futebol com meu pai. E, embora eu suspeite que ela tenha sido tão perna-de-pau quanto eu, ele sempre teve boas histórias para narrar. Além da grande quantidade de craques de almanaque que ele viu jogar, sempre me relatou casos como o do jogo da Seleção a que ele assistiu no Maracanã em 1955 (!), de quando jogou contra um time de índios em Tupã, ou do jogo amador apitado por Aymoré (ou Zezé, sempre me confundo) Moreira de que ele participou.
O velho testemunhou coisas do tempo em que half e keeper eram os nomes de posições de um time de futebol. Escutou muito jogo narrado pelo Pedro Luiz (que uma vez ouvi ser pai do Sílvio Luiz, mas não boto muita fé) e pelo Geraldo José de Almeida (pai do Luiz Alfredo).
Uma de que eu sempre me lembro aconteceu num bar. Todo mundo criticava os jogadores dos anos 90, dizendo que “no antigamente” era bem melhor. Meu pai só elogiava os grandes jogadores esquecidos: Zizinho, Leônidas, Canhoteiro, Danilo, Ademir. Quando saímos do bar, ele resumiu: “O pessoal fala de hoje, mas antes também tinha muito perna-de-pau.”
Mas a coisa que ele mais repete é sobre a tal da “linha média”. Ele me diz: “Naquela época, os times jogavam diferente.” Recita: “Rui, Bauer, Noronha”. E acha um absurdo “colocarem uma calçada da fama e não chamaram o Monstro do Maracanã”.
Uma das poucas vezes que vi algo sobre Bauer foi numa reportagem da Carta Capital em que ele jantava com o Parreira. Bauer parecia um homem simples e humilde. No texto, era dito que ele vivia da aposentadoria do INSS e dos quadros que a mulher pintava.
Domingo, dia 4, Bauer morreu aos 81.
Márcio
2 comentários:
pois é, bauer encerrou sua gloriosa carreira no e. c. são bento de sorocaba, o bentão, que desde que voltou a A1 vem penando para se manter na primeira divisão; tempos bons aqueles do bentão, que não vi, mas ouvi muita história também de marinho perez, luis pereira e outros que nele jogaram o fino do futebol;
por indicação do márcio cenzi, linquei seu blog no canto do caracol (www.cantodocaracol.blogspot.com), pois ele terá contos publicados lá;
faça uma visite e se puder nos linque também para divulgar o trabalho
parabéns
É, eu também li sobre o Bauer na CartaCapital e também ouvi muitas histórias do meu pai como quando ele foi ao Maracanã na década de 50 ver Santos de Pelé e Flamengo, mesmo sabendo que o time ia perder. Não deu outra: 7 a 1.
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