terça-feira, dezembro 14, 2010

São Paulo Athletic - Tricampeão Brasileiro

A história é velha, mas, de tão despropositada, ninguém deu bola.
Até hoje, quando corre por aí que, para agradar seus associados, a CBF teria resolvido (nada oficial no sítio da entidade, por enquanto) homologar os títulos da Taça do Brasil e do Robertão como títulos brasileiros.
É preciso, antes de tudo, esclarecer o que foi um e outro. Pois entre os dois já há grandes diferenças.
A Taça do Brasil era como a Copa do Brasil de hoje. Só que mais fácil. Participavam, basicamente, os campeões estaduais, que se enfrentavam em mata-mata. Em várias edições, os representantes de São Paulo e da Guanabara entravam já nas semifinais e, com quatro jogos, sagravam-se campeões.
O Robertão, embrião do Brasileirão, era o Rio-São Paulo ampliado. Uma espécie de clube dos 13 esteve presente em todas as edições, outros clubes foram convidados como campeões estaduais. A definição do campeão era feita em quadrangulares, não havia rebaixamento ou acesso.
Cumpre lembrar que, em 68, a CBD (à época, capitaneada por João Havelange) organizou uma Copa dos Campeões (reunindo os vencedores do Robertão, da Taça do Brasil, do Torneio Rio-Sul e do Torneio Norte-Nordeste). A fase final não chegou a se realizar e o Maringá foi declarado vencedor. Assim, deveria ser homologado como Supercampeão Brasileiro.
Os argumentos a favor da unificação dos títulos são de diversos tipos, mas todos pretendem igualar o que por natureza é desigual.
O primeiro argumento é o de que os times vencedores eram os melhores de sua época. De fato, é possível que sejam, mas a estrutura da competição em mata-mata possibilita que muitas vezes a sorte suplante o mérito. Que o diga o Palmeiras e suas constantes eliminações na Copa do Brasil para times sabidamente piores.
O segundo argumento é o de que tais competições indicavam o representante brasileiro para a Libertadores. Há, então, dois problemas: primeiro, não houve representantes brasileiros nas Libertadores de 1969 e 1970; segundo, outras competições como a Copa dos Campeões também classificaram para o torneio continental. Seria o Paysandu campeão brasileiro de 2002? Ou o Santos? Ou teríamos dois campeões?
O que se percebe é que a Taça Brasil era do mesmo gênero da atual Copa do Brasil e que o Robertão era um intermediário entre a Taça e o Brasileirão.
Há, ainda, o argumento de que, à época, não havia um campeonato brasileiro e que a Taça e o Robertão eram o mais próximo disso. Assim, seus campeões seriam "campeões brasileiros".
É mais ou menos o que os Uruguaios fazem, considerando como títulos mundiais os campeonatos olímpicos vencidos antes da existência da Copa do Mundo, sendo, portanto, tetracampeões muito antes de Itália e Brasil.
Com esse raciocínio, resta-nos sugerir uma campanha: de 1902 a 1904, só existia um campeonato de futebol no Brasil, o Paulista. Seu campeão foi o São Paulo Athletic Club, que nada tem a ver com o atual São Paulo, e que ainda existe, dedicando-se atualmente mais ao rúgbi (ou râguebi, como dizem e escrevem os portugueses), que um dia vai ser grande por aqui, conforme a propaganda.
Assim, não há dúvida: o São Paulo Athletic Club é o primeiro legítimo tricampeão brasileiro. A taça das bolinhas vai para Guarapiranga.

5 comentários:

Sidarta Martins disse...

Sua lógica ortodoxa aplicar-se-ia ao ludopédio se os barrigudos dos butecos pudessem entendê-la.

Anônimo disse...

Marcio, não concordo com alguns posicionamentos e justificativas para desvalorizar os títulos da época.
Dizer que Taça Brasil não poderia ser considerada um campeonato brasileiro simplesmente porque ela era disputada no modelo de mata-mata, idêntica ao formato adotado atualmente pela Copa do Brasil, é uma “comparação sem sentido”. São competições totalmente diferentes desde o seu objetivo inicial: a Taça Brasil foi criada para ser a única competição nacional naquela época. Já a Copa do Brasil não passa de uma alternativa para dar chances aos pequenos clubes que não participam do Campeonato Brasileiro. Já o sistema de disputa só é igual porque na década 60 sequer existiam pontes aéreas no país, o que dificultava por exemplo, um campeonato por pontos corridos. Outra coisa, na Taça Brasil, apenas clubes campeões estaduais participavam. Na Copa do Brasil, alguns times são simplesmente convidados a jogá-la. Na Taça Brasil, 100% das vagas brasileiras na Copa Libertadores da América eram definidas. Na Copa do Brasil, apenas 20%.
Importante também dizer que jornais da época eram taxativos em relação ao reconhecimento destes campeonatos: Bahia, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense foram campeões brasileiros. Inúmeras manchetes da época provavam tal fato (revista placar, gazeta esportiva, etc).
Até na Europa, a Espanha, a França, e aa Itália, entre outros países, todos campeões nacionais são reconhecidos atualmente. E esta legitimidade acontece independentemente do formato das competições. Na França, até campeonatos disputados com gramados em tamanhos e condições irregulares são contabilizados normalmente. Na Argentina, competições que envolviam apenas times de Buenos Aires também são legítimos títulos nacionais.
Não se trata apenas de computar mais ou menos títulos para os clubes, e sim de reconhecer e premiar os jogadores e a época em que o futebol brasileiro foi o melhor do mundo vencendo três copas. Lembrando que a própria copa do mundo na época era menor e disputada de forma totalmente diferente, seria então o caso de deixar o Brasil Bi-mundial?
rafael

Anônimo disse...

Poucos times que hoje são campeões brasileiros ganharam realmente uma competição chamada “Campeonato Brasileiro”. Este nome só foi adotado a partir de 1989. Antes disso, outras alcunhas foram utilizadas para definir o melhor time do país: Campeonato Nacional, Taça de Ouro e Copa União são alguns exemplos. Depois disso, em 2000, o torneio voltou a mudar de nome para Copa João Havelange. O Vasco venceu naquele ano e foi considerado normalmente "campeão brasileiro".

Lucas disse...

Não será a caneta do Ricardo Teixeira que fará os títulos da década de 60 mais importantes do que foram. E nem a falta da caneta os deixarão menos importantes.

Era outra época. O que importava realmente na época eram os campeonatos estaduais. Por isso não é possível comparar com França, Espanha e Itália. A Taça Brasil foi o único jeito encontrado para que fosse selecionado o representante na Libertadores. Por isso, as fórmulas bizarras.

Se é verdade que os jornais dos anos 60 se referiram aos vencedores como campeões brasileiroes, é também verdade que sempre foi reclamada a necessidade de um campeonato nacional. Por isso, decidiu-se pela realização de um verdadeiro Campeonato Brasileiro de 1971. Basta ler os jornais de 1971 para ver que o Galo sempre foi tratado como o primeiro campeão brasileiro, já que este conceito não existia até então.

Desde então, ininterruptamente, foi realizado o Campeonato Brasileiro de futebol. Sempre foi definido um campeão, considerado campeão brasileiro de futebol.

Dizer que o campeonato brasileiro começou antes de 1971 é ignorar o momento importante vivido naquela época. E criar situações bizarras, como o Palmeiras bi-campeão no mesmo ano.

Anônimo disse...

No meu entendimento, a unificação não deve ser discutida como forma de acirrar rivalidades ou ranquear os clubes por uma nova ordem de conquistas. A importancia da unificação é outra, ela vem para respaldar uma época, incorporar a história do futebol nacional, prestigiar jogadores e lendas como Pelé, Garrincha, Adhemir, etc.
Os campeonatos nacionais antes de 71 eram simplesmente ignorados e como se o futebol brasileiro tivesse nascido em 71, isso era um absurdo. Afinal temos 3 copas do mundo conquistas no período da " unificação",isso é prova mais que contundente da qualidade e da importancia das disputas da época.
Muitos campeonatos brasileiros pós 71 foram medíocres, se juntassemos todos os jogadores de todos os times de determinados anos, não dava um Palmeiras de 60, ou um Santos, ou um Botafogo. Ou seja, o que vale na verdade não é a titulação (quantidade), pois os titulos de Sao Paulo e Flamengo sempre serão reconhecidos como tal, o que não se pode é ignorar o que ocorreu antes. A CBF vem para eliminar esse divisor de águas na história do futebol e trazer de volta nossa época de ouro...isso só valoriza o futebol brasileiro! É engrandecer e não diminuir!
É muito díficil para aqueles que enxergam apenas como torcedores de clube e veem somente numeros (como os sao paulinos contadores de digitos). Futebol é mais do que numeros.
Tirar Pelé, Garrincha e cia do lado de fora da casa e trazer para mesa de jantar só deve ofender aos medíocres com visão caolha.
Parabéns a CBF pelo reconhecimento, o futebol brasileiro merece. (rafael)