terça-feira, junho 12, 2012

A socos e toques

O esporte, mais do que tudo, ensina que as glórias são efêmeras.
Basta atentar que não há tempo suficiente para se desfrutar de uma vitória, de um campeonato; há sempre um próximo jogo, uma próxima disputa.
No esporte, o conceito de História como aquilo que se vê faz seus maiores estragos. A falta de registros e o perecimento das fontes lançam suspeitas sobre os maiores do passado. Pelé foi tudo isso? E Leônidas? Di Stéfano? Sindelar? Andrade?
A falha não está apenas em comparar épocas distintas e possibilidades diversas de arquivamento dos feitos. O grande erro é o de ver no esporte apenas uma competição. Em toda disputa esportiva, existe um elemento social. Ou psicológico, dependendo do enfoque. Na verdade, há vários embates dentro de uma disputa, e os "recortes epistemológicos" podem multiplicar-se e dar origem a diferentes abordagens.
Nasce daí o fato de que poucos conseguem ficar alheios a um certame. Diante de uma disputa, há sempre um lado a escolher. Quem não escolhe mente. Ou não entende.
Esse efeito do esporte não é coisa da "sociedade de massas". Está presente em todos os projetos fracassados de civilização.
Para minimizar o esquecimento do momento fugidio e espetacular de uma conquista, os artistas tentaram pelos séculos, e ainda tentam, eternizar um instante ou uma trajetória. E isso vai de Píndaro a João Cabral de Melo Neto.
Ainda que o futebol seja o esporte mais difundido e acompanhado, aquele que mais se prestou a grandes narrativas é o boxe. Gente como Mailer, Cortázar e Hemingway se empenhou na descrição das diversas faces daquilo que já foi chamado a nobre arte.
No cinema, as referências são ainda mais numerosas, a ponto de não caber listá-las aqui.
A figura mais inspiradora do boxe do último século foi Cassius Clay. Os artistas que presenciaram sua carreira escreviam sobre combates reais e ilusórios. Entre os últimos, idealizavam a luta de Clay e Teófilo Stevenson.
O desafio nunca ocorreu, pois Stevenson jamais largou o amadorismo - prova de que até a ausência de confronto envolve mais do que o simples enfrentamento.
Morto ontem, Stevenson sobrevive nos registros de seu tricampeonato olímpico e nas comparações com Clay.
Aparecerá, ainda, na prosa de alguns admiradores do americano. A glória dos atletas é fugidia.
Não têm melhor sorte os escritores.




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