domingo, junho 10, 2012

Santo (fora) de Casa

(Publicado originalmente no Sem Cesura)

Cada país lida com seus expoentes de uma forma. Há aqueles que são indiferentes, há os ufanistas.
Problema existe quando o gênio é descoberto fora dos limites de sua terra natal.
Casos como os de Carlos Gardel e de Carmen Miranda são resolvidos pela adoção imediata pelas terras em que cresceram. Gardel, uruguaio ou francês a depender das versões, é assumido pelo orgulho argentino; Carmen Miranda se tornou o símbolo brasileiro no cinema americano.
O problema está quando, após desenvolver relações mais estreitas com o solo de origem, o dono do talento é reconhecido fora de seus domínios muito antes de despertar a admiração na própria terra.
No Brasil, costuma-se adotar o ufanismo: onde quer que um brasileiro mereça a atenção por seu talento, para lá se voltará o orgulho nacional. Carlos Saldanha e Miguel Nicolélis são apenas alguns nomes que alcançaram a notoriedade internacional, ainda que amplamente ignorados por aqui.
Quando expostos ao brasileiro, estes nomes são rapidamente absorvidos, numa mistura de satisfação e culpa.
A Argentina parece seguir outra conduta. Muita gente saudada pelo mundo teve dificuldade em ser aceita nas terras de nossos vizinhos. Os exemplos mais famosos são Piazzolla e Borges. O reconhecimento dos conterrâneos foi mais difícil do que o obtido nas estantes e vitrolas pelo mundo.
Nos esportes, o nome mais proeminente é Messi. Tendo saído ainda adolescente da Argentina, não houve tempo para que ligasse sua imagem à de qualquer grande clube de futebol daquele país. A forma de conquistar a simpatia de seus patrícios seria por atuações pelo selecionado nacional.
Como a Argentina não conquista o Mundial desde 1986, Messi foi injustamente rotulado de "jogador de time"; muitas vezes sua vontade de defender a Seleção Argentina foi questionada.
As coisas parecem mudar. Messi já conquistou o ouro olímpico e hoje, com três gols contra a Seleção Brasileira, deu passo importantíssimo para romper o que ainda sobra da indiferença.
Se vencer o Mundial em solo brasileiro, gravará seu nome definitivamente como símbolo nacional argentino.
O futebol também ajuda a entender a(s) cultura(s).

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