(Publicado originalmente no Sem Cesura)
Cada país lida com seus expoentes de uma forma. Há aqueles que são indiferentes, há os ufanistas.
Problema existe quando o gênio é descoberto fora dos limites de sua terra natal.
Casos como os de Carlos Gardel e de Carmen Miranda são resolvidos pela adoção imediata pelas terras em que cresceram. Gardel, uruguaio ou francês a depender das versões, é assumido pelo orgulho argentino; Carmen Miranda se tornou o símbolo brasileiro no cinema americano.
O problema está quando, após desenvolver relações mais estreitas com o solo de origem, o dono do talento é reconhecido fora de seus domínios muito antes de despertar a admiração na própria terra.
No Brasil, costuma-se adotar o ufanismo: onde quer que um brasileiro mereça a atenção por seu talento, para lá se voltará o orgulho nacional. Carlos Saldanha e Miguel Nicolélis são apenas alguns nomes que alcançaram a notoriedade internacional, ainda que amplamente ignorados por aqui.
Quando expostos ao brasileiro, estes nomes são rapidamente absorvidos, numa mistura de satisfação e culpa.
A Argentina parece seguir outra conduta. Muita gente saudada pelo mundo teve dificuldade em ser aceita nas terras de nossos vizinhos. Os exemplos mais famosos são Piazzolla e Borges. O reconhecimento dos conterrâneos foi mais difícil do que o obtido nas estantes e vitrolas pelo mundo.
Nos esportes, o nome mais proeminente é Messi. Tendo saído ainda adolescente da Argentina, não houve tempo para que ligasse sua imagem à de qualquer grande clube de futebol daquele país. A forma de conquistar a simpatia de seus patrícios seria por atuações pelo selecionado nacional.
Como a Argentina não conquista o Mundial desde 1986, Messi foi injustamente rotulado de "jogador de time"; muitas vezes sua vontade de defender a Seleção Argentina foi questionada.
As coisas parecem mudar. Messi já conquistou o ouro olímpico e hoje, com três gols contra a Seleção Brasileira, deu passo importantíssimo para romper o que ainda sobra da indiferença.
Se vencer o Mundial em solo brasileiro, gravará seu nome definitivamente como símbolo nacional argentino.
O futebol também ajuda a entender a(s) cultura(s).
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