Há uma frase da sabedoria popular que dá conta de que "a gente só dá valor quando perde". Não se pode negar que haja boa recorrência de exemplos que confirmam o que o olho arguto do povo percebeu.
Contudo, existe uma fábula, já bastante repetida, em que se destaca uma fala: "As uvas estavam verdes".
Em casos como o da velha raposa de Esopo, a valorização vem com a conquista.
Pode ser o caso da vitória corinthiana ontem. Vencendo a Libertadores, o Corinthians deu alegria à sua torcida e redimensionou, dentro da própria história, o sentido da conquista continental.
Já escrevi por aqui acerca do espírito belicoso do futebol e da preocupação com a derrota dos rivais, muitas vezes maior do que com o próprio êxito. Dessa inspiração, nasce o fato de que além de não saber perder, muita gente não sabe ganhar.
Se ano passado, alguns santistas se preocuparam mais com o Corinthians do que com o próprio e belo time, agora há os que preferem dedicar o título aos "anti" do que sentir o gosto da conquista. É possível que sejam os mesmos que se sentiram incomodados com a "lembrança" em 2011. Ou os que dividiram a própria camisa com a do Boca Juniors em 2000. Entre a coerência e o rancor, o segundo tem mais público.
Não é segredo para o leitor do blogue, a preferência deste digitador pelo São Paulo. Como também não é segredo a opção de, na ausência do Tricolor, torcer para o time mais próximo. Nesta quinta, por exemplo, torcerei para o Palmeiras. E, esclareça-se, não conheço nenhum verdadeiro xeneize.
Então, chega-se a um ponto fundamental: a vitória do outro pode valorizar a sua. Lembro que, ano passado, alguns tricolores torciam contra o Santos para que não fosse "igualado" o tricampeonato. Talvez escapasse a eles o fato de que ter o mesmo número de títulos de um clube com a história do Santos não é demérito para ninguém. E, mais do que isso, uma derrota do Santos nada faria pela história do São Paulo.
A vitória corinthiana pode fazer com que o santista, o palmeirense e o são-paulino revejam na alegria do vizinho a dimensão de suas conquistas passadas.
E o leitor torcedor de outro time provavelmente conhece um corinthiano que merece sentir o contentamento já experimentado por ele, leitor, em outras oportunidades com seu time. Há corinthianos chatos e intolerantes? Há. Mas também há exemplares assim nas outras torcidas. A estupidez não escolhe camisa.
Com a vitória santista, publiquei ano passado uma saudação à conquista praiana.
Hoje quem merece a saudação é outro torcedor alvinegro. Parabéns ao Corinthians! Por essa conquista que o corinthiano quis tanto. Parabéns por ter neste ano o controle que outras equipes mais estreladas (2000, 2003 e 2006, por exemplo) não tiveram.
Parabéns ao trabalho de Tite, que venceu a desconfiança de seus torcedores. E que, após perder o Brasileiro de 2010, conseguiu duas conquistas na sequência. Trajetória parecida, por exemplo, com o que Telê fez de 1990 a 1992 no São Paulo. Ou seja, algo que definitivamente não é pouco.
O leitor corinthiano pode falar agora - e palmeirenses, santistas e são-paulinos - não haverão de discordar: Ganhar a Libertadores é muito bom!
Um comentário:
E isso ai escritor. Agora a taça Libertadores para desgosto de muitos que preferiam a propria morte ou a chegada do armagedon, mas insinuavam que esse glorioso dia jamais chegaria, repousa resplendorosa na ZL.
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