quinta-feira, setembro 20, 2012

A arte da vaia

Depois do Sérgio Ricardo, em 67, poucos acreditariam que a vaia ganhasse status de protagonista novamente. Pura ingenuidade. Em 1991 e 2001, durante as edições do Rock in Rio no Brasil, foi a vez de Lobão e Carlinhos Brown. Os protestos se concretizaram em copos e garrafas plásticas atiradas nos artistas. Sinal claro de desaprovação, ninguém parece saber lidar com a rejeição. E a bola da vez é a Seleção Brasileira de Futebol. Depois do coro uníssono em São Paulo, o time teve um alívio no Recife e uma nova surpresa ontem, no jogo contra a Argentina, no Serra Dourada, em Goiás. A torcida vaiou a substituição de Lucas, na segunda etapa, e ainda clamou por "Volta, Felipão" antes do final do jogo.

No caso do jogo em São Paulo, as vaias foram justificáveis. A Seleção apresentou um futebol sofrível, sem armação tática e sem o mínimo de entrosamento. O problema não foram as críticas ao futebol e, sim, o clubismo. O compromisso do torcedor com seu clube de coração falou mais alto e fez com que a intolerância dominasse a situação. Leandro Damião foi uma das vítimas. O atacante que herdou a camisa 9 (ocupada por Luís Fabiano na última Copa) ouviu a torcida gritar o nome do atacante do time do Morumbi logo no início do jogo. Neymar também não escapou. Assim como aconteceu nas Olimpíadas, foi continuamente vaiado quando pegava na bola e chamado de pipoqueiro ao longo do jogo. Sinal evidente de que o torcedor não queria ver na Seleção o melhor jogador de cada posição, mas sim o jogador do seu time de coração.

Depois do respiro em Recife - a Seleção goleou a China e a torcida mostrou-se afável- , o cenário em Goiás parecia receptivo novamente. Mas torcedor é volúvel assim mesmo: depois de apoio e cantos de incentivo ao time (com requintes de crueldade do já popular "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor"), as vaias voltaram ao protagonismo quando Mano Menezes tirou Lucas para colocar Wellington Nem. Surgiram os primeiros gritos de "burro", seguidos pelos pedidos de "Volta Felipão!".



Mesmo com a vitória, o resultado não é representativo. E o técnico brasileiro, espertamente, utilizou suas artimanhas (que podem ser entendidas como um eufemismo) para sair com a vitória nesse Superclássico das Américas. Se não há treino, o tão famigerado entrosamento vem na base da força. Mano convocou jogadores que já jogam juntos em setores importantes - Jadson, Lucas e Luis Fabiano/ Paulinho, Ralf e Fabio Santos / Jefferson e Lucas Marques - no intuito de trazer ao time espírito de coletividade .

Marin despista e diz que está tudo bem. Enquanto isso, lemos nos noticiários de hoje que o preparador físico e o preparador de goleiros do Palmeiras também deixaram o clube, junto com Felipão. Anselmo Sbragia trabalhava no Palmeiras desde 1996. E Carlos Pracidelli, que revelou Marcos, somou 15 anos (entre idas e voltas) de serviços prestados ao clube.

A passionalidade da torcida a gente até entende. Só vale lembrar que o Felipão também não é lá essas coisas no quesito "substituição".

Um comentário:

Pedro Caldas disse...

Tem gente que fala que a culpa não é de Felipão, é toda da diretoria. Não concordo. A culpa maior é do Felipão, sim. Agora, temos que jogar defensivamente, e aproveitar todas as oportunidades de gol!

Felipão cometeu muito equívocos no Verdão, entre eles, deixar de jogar o início do Brasileiro.

Essa seleção brasileira do Clássico Série B não merece atenção.