terça-feira, março 31, 2009

Um papo com o Prof. Gumbrecht, Freyre e Henry

Domingão foi publicado um interessante artigo de um alemão que dá aula de literatura em Stanford. Aqui neste blogue, no texto Pobres ou ricos todos têm suas experiências estéticas, o grande professor de literatura e grande amante dos esportes Hans Ulrich Gumbrecht foi apresentado a você, leitor daqui do Na Cal.

O autor do ótimo livro Elogio da Beleza Atlética, começa o seu texto colocando que:

Isto não é sobre a - até agora - muito medíocre performance da seleção (brasileira) nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010.

Pois é, o Mundo pode ficar quieto, mas quem entende de futebol acompanha de perto a Seleção brasileira.

O cara foi profético: (O Brasil...) provavelmente empatará(... com o Equador).

Ele coloca que o nosso futebol sempre teve grandes craques dentro de campo e um ambiente sempre medíocre fora das quatro linhas. Gostei da sua referência ao nosso Anão-Técnico: um treinador absolutamente inexpressivo (que já foi um jogador muito pouco impressionante).

O argumento central é que, ao contrário de alguns anos atrás, Não existe hoje, de fato, nenhum grande jogador de futebol brasileiro na ativa. Os craques dos melhores campeonatos de times, o espanhol e o inglês, não são brasileiros. O que estaria mais perto desta condição seria Kaká, mas este jogador, pro alemão, sofre com lesões que nenhum médico sério consegue sequer identificar.

Ele não é louco a ponto de falar que é hora de enterrar o futebol brasileiro; como todo mundo, sabe que somos favoritos pras próximas copas. Coloca que o último grande brasileiro foi o Ronaldinho Gaúcho do Barcelona.

Depois de umas masturbaçõesinhas sobre a Copa passada, ele abre o foco para explicar seu ponto de vista sobre crise no futebol brasileiro. Após passar por Gilberto Freyre, a ferida é cutucada: Talvez ele (Ronaldinho Gaúcho) - e as centenas de jogadores brasileiros que se saem apenas bem em tantas ligas espalhadas pelo mundo - talvez ele e esses jogadores bastante bons sejam a personificação de uma compreensão fraca de democracia social: ainda é possível ganhar muito dinheiro no segundo escalão do futebol - e mesmo sentado no banco; não há necessidade de assumir responsabilidades enquanto se encontra uma maneira de se esconder atrás de lesões e técnicos medíocres, para ficar jogando videogames numa casa de U$ 2 milhões. Sobretudo: não se exponha ao esforço extremo.

No final, deixa uma esperança para os seus leitores brasileiros: (um novo) Romário ainda emergiria de um mundo de força proletária.

Essa referência classista ao baixinho do Prof. fica mais clara com um outro texto seu que coloca que Nenhum outro acontecimento do século 20 (a Revolução Russa de 1917) inspirou esperanças tão grandes, mais intensas e mais nobres, quanto as despertadas por Leon Trotsky; nenhuma ideologia política contemporânea constituiu uma homenagem maior para a humanidade do que sua fé no advento de uma "Revolução permanente"(...).

Ou seja, pelo jeito, o coração do Professor tem uma quedinha ideológica que me impede de concordar com sua conclusão.

Acho que a força do futebol brasileiro vem justamente da nossa sociedade desigual. Tal qual o samba, não há outra porta aberta aos jovens pobres brasileiros. Infelizmente, o Thierry Henry tem um argumento forte:

Quando eu era criança, ia à escola das 7 horas da manhã às 5 da tarde e, quando queria jogar bola, minha mãe não deixava. Dizia que estudar era mais importante. No Brasil, as crianças jogam das 8 às 18 horas. Em algum momento a técnica aparece. [...] [no Brasil as crianças] nascem com a bola nos pés. Na praia, na rua, na escola. Onde quer que você olhe, eles estão jogando. (fonte)

Quem não tem papai e mamãe e não quer ir pro crime só vê muitas oportunidades de sucesso nesta pátria amada com uma bola ou um pandeiro. Sei que este ponto de vista tira muita força do construído em Casa-Grande & Senzala, que eu adoro, mas não consigo perceber muito além disto.

Leia todo o artigo A crise de um futebol sem rosto se se interessou, tá certo que poderiam ter colocado um título melhor.

Abraços,

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