terça-feira, maio 15, 2012

cheiro de déja-vu: o sucesso dos novos-ricos







O século XX terminou com o futebol estabilizado como um grande negócio, tendo os grandes times tornado-se enormes marcas e parecia que quanto mais tradição tivesse um clube, mais potencial ele teria para atrair as grandes estrelas e os holofotes, resultando num ciclo virtuoso, em que mais tradição, mais dinheiro e mais estrelas e mais títulos e mais tradição... Até que o XXI começou e apareceu um maluco russo que resolveu comprar um time médio no campeonato mais competitivo [e lucrativo] do mundo e tê-lo como seu brinquedo pessoal. Em pouco tempo meteu a mão no cofrinho, encheu-o de bons [e caros] jogadores e colecionou títulos, invertendo a ordem do ciclo.
Claro que falamos de Roman Abramovich, que, aos 37 anos [já podre de rico, depois de ter comprado migalha por migalha de uma grande petroleira quando da reabertura do mercado russo], iniciou no Chelsea um projeto que no próximo final de semana tem boas chances de chegar ao seu grande objetivo: o título da Champions League.
Seu projeto, num primeiro momento, pareceu megalomaníaco e descabido. Embora tentasse com valores surreais seduzir os maiores jogadores do mundo, poucos se arriscavam num projeto tão incerto. Aquele ciclo virtuoso da tradição... Quem em 2003 sairia do Real Madrid para jogar no Chelsea? O jeito foi juntar à base do elenco [que tinha Lampard e Terry] os melhores jogadores de clubes médios e apostar num treinador promissor e ambicioso. Então vieram José Mourinho [campeão europeu pelo Porto], Robben, Drogba, Essien, Cech e mais alguns bons jogadores que formaram uma base que desbancou o Manchester United e dominou, ainda que brevemente, a Premier League.
Mas Mourinho se mandou, o United trouxe Cristiano Ronaldo e Rooney, se levantou, fez valer a tradição e tomou novamente as rédeas do campeonato até que outro zilhardário irresponsável chegasse fazendo escândalo.
Também turbinado pelos petrodólares, o Sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan comprou o Manchester City, segundo time da cidade, e anunciou um projeto tão ambicioso quanto Abramovich lançara alguns anos antes. Também foi recusado pelas grandes estrelas [Cristiano Ronaldo e Kaká preferiram a tradição do Real Madrid] e acabou investindo muito errado, pagando absurdos 32,5 milhões de libras para tirar Robinho do banco do Real. Mas o fracasso de Robinho [que em pouco tempo era reserva no elenco ainda mediano, 10º lugar da PL] não desestimulou o Sheik, que para a temporada seguinte torrou mais de cem milhões de libras para trazer Gareth Barry, Kolo Touré, Emmanuel Adebayor e Carlitos Tévez, além do técnico Roberto Mancini. Começava a estratégia de se reforçar tirando os destaques dos rivais, como Touré e Adebayor, do Arsenal, e Tevez, do United. Barry fora o grande destaque da última Premier League, pelo emergente Aston Villa. Demonstrava força local e ambição.
Ao fim da temporada tinham um quinto lugar, ainda insuficiente para disputar a Champions League, mas já estimulante para a torcida, acostumada a empurrar um time coadjuvante. E se Robinho ainda não emplacou e Adebayor passou longe das grandes atuações dos tempos de Arsenal, Tevez mostrou que chegava para assumir o posto de estrela que o time tanto precisava. Ainda mais porque para a temporada seguinte os reforços seriam ainda mais exagerados, mas visando a completar a equipe: Jérôme Boateng, Yaya Touré, David Silva, Aleksandar Kolarov, Mario Balotelli, James Milner e Edin Džeko. E com essa base fortíssima, em 2011 venceu a FA Cup e conseguiu o 3º lugar na PL, o que valeu a promissora vaga na Champions League pela primeira vez na história do clube.
Mas o sucesso mesmo da empreitada do Sheik viria no último fim de semana, quando a mais cara de suas contratações, o argentino Kun Agüero, marcou aos 49 do segundo tempo no City of Manchester, de virada, o sofrido gol do título inglês, tirando da garganta da torcida um grito inimaginável quatro anos atrás.
Além do atacante, Gaël Clichy, Stefan Savić, Samir Nasri e Owen Hargreaves chegaram para completar um elenco que já tinha muitas opções em todas as posições para compor um time campeão e promissor, que apesar da eliminação precoce nos torneios europeus [não passou da primeira fase na CL], chegou ao título merecidamente por ter tido uma temporada de muitos altos [como o grande 6x1 no rival United em pleno Old Trafford] e de apenas um enorme baixo: a confusão protagonizada pela estrela da equipe, Carlitos Tevez, afastado por meses após recusar-se a entrar numa partida perdida diante do Bayern, quase botando a temporada a perder, mas voltando espetacularmente a tempo de recuperar-se na arrancada final.
Como já vimos antes com o Chelsea de Abramovich, o Manchester City de Mansour bin Zayed Al Nahyan é um sucesso nos gramados ingleses. E a volúpia do sheik por contratações parece não ter chegado ao fim. Ainda mais porque agora os blues parecem um destino bem mais confiável para as grandes estrelas. Fica no ar um cheiro de déja-vu. Mas que, independente do resultado do Chelsea no fim de semana, parece um cheiro de incêndio ainda maior que o causado pelo time londrino. Afinal, quanta juventude e potencial inflamável ainda temos em Agüero, Tevez, David Silva, Nasri, Balotelli...
E dizem que Al Nahyan, príncipe de Abu Dhabi, tem ainda mais petróleo pra queimar que Roman Abramovich.
[E esse cheiro de déja-vu, para o bem ou para o mal, parece não ter fim: ainda vêm aí Paris Saint-Germain e Málaga, empolgados com esse novo futebol de novos-ricos].

2 comentários:

Sidarta Martins disse...

Onde está o Eike Batista q não compra o Madureira, o Bangu ou o Atlético Mineiro?

cesare r. disse...

e contratar o Jobson pra fazer a do Balotelli.