O século XX terminou com o futebol estabilizado como um
grande negócio, tendo os grandes times tornado-se enormes marcas e parecia que
quanto mais tradição tivesse um clube, mais potencial ele teria para atrair as
grandes estrelas e os holofotes, resultando num ciclo virtuoso, em que mais tradição,
mais dinheiro e mais estrelas e mais títulos e mais tradição... Até que o XXI
começou e apareceu um maluco russo que resolveu comprar um time médio no
campeonato mais competitivo [e lucrativo] do mundo e tê-lo como seu brinquedo
pessoal. Em pouco tempo meteu a mão no cofrinho, encheu-o de bons [e caros]
jogadores e colecionou títulos, invertendo a ordem do ciclo.
Claro que falamos de Roman Abramovich, que, aos 37 anos [já
podre de rico, depois de ter comprado migalha por migalha de uma grande
petroleira quando da reabertura do mercado russo], iniciou no Chelsea um
projeto que no próximo final de semana tem boas chances de chegar ao seu grande
objetivo: o título da Champions League.
Seu projeto, num primeiro momento, pareceu megalomaníaco e
descabido. Embora tentasse com valores surreais seduzir os maiores jogadores do
mundo, poucos se arriscavam num projeto tão incerto. Aquele ciclo virtuoso da
tradição... Quem em 2003 sairia do Real Madrid para jogar no Chelsea? O jeito
foi juntar à base do elenco [que tinha Lampard e Terry] os melhores jogadores
de clubes médios e apostar num treinador promissor e ambicioso. Então vieram
José Mourinho [campeão europeu pelo Porto], Robben, Drogba, Essien, Cech e mais
alguns bons jogadores que formaram uma base que desbancou o Manchester United e
dominou, ainda que brevemente, a Premier League.
Mas Mourinho se mandou, o United trouxe Cristiano Ronaldo e
Rooney, se levantou, fez valer a tradição e tomou novamente as rédeas do
campeonato até que outro zilhardário irresponsável chegasse fazendo escândalo.
Também turbinado pelos petrodólares, o Sheik Mansour bin
Zayed Al Nahyan comprou o Manchester City, segundo time da cidade, e anunciou
um projeto tão ambicioso quanto Abramovich lançara alguns anos antes. Também
foi recusado pelas grandes estrelas [Cristiano Ronaldo e Kaká preferiram a
tradição do Real Madrid] e acabou investindo muito errado, pagando absurdos
32,5 milhões de libras para tirar Robinho do banco do Real. Mas o fracasso de
Robinho [que em pouco tempo era reserva no elenco ainda mediano, 10º lugar da
PL] não desestimulou o Sheik, que para a temporada seguinte torrou mais de cem
milhões de libras para trazer Gareth Barry, Kolo Touré, Emmanuel Adebayor e Carlitos
Tévez, além do técnico Roberto Mancini. Começava a estratégia de se reforçar
tirando os destaques dos rivais, como Touré e Adebayor, do Arsenal, e Tevez, do
United. Barry fora o grande destaque da última Premier League, pelo emergente
Aston Villa. Demonstrava força local e ambição.
Ao fim da temporada tinham um quinto lugar, ainda insuficiente
para disputar a Champions League, mas já estimulante para a torcida, acostumada
a empurrar um time coadjuvante. E se Robinho ainda não emplacou e Adebayor
passou longe das grandes atuações dos tempos de Arsenal, Tevez mostrou que chegava
para assumir o posto de estrela que o time tanto precisava. Ainda mais porque
para a temporada seguinte os reforços seriam ainda mais exagerados, mas visando
a completar a equipe: Jérôme Boateng, Yaya Touré, David Silva, Aleksandar
Kolarov, Mario Balotelli, James Milner e Edin Džeko. E com essa base fortíssima,
em 2011 venceu a FA Cup e conseguiu o 3º lugar na PL, o que valeu a promissora vaga
na Champions League pela primeira vez na história do clube.
Mas o sucesso mesmo da empreitada do Sheik viria no último
fim de semana, quando a mais cara de suas contratações, o argentino Kun Agüero,
marcou aos 49 do segundo tempo no City of Manchester, de virada, o sofrido gol
do título inglês, tirando da garganta da torcida um grito inimaginável quatro
anos atrás.
Além do atacante, Gaël Clichy, Stefan Savić, Samir Nasri e Owen
Hargreaves chegaram para completar um elenco que já tinha muitas opções em
todas as posições para compor um time campeão e promissor, que apesar da
eliminação precoce nos torneios europeus [não passou da primeira fase na CL], chegou
ao título merecidamente por ter tido uma temporada de muitos altos [como o
grande 6x1 no rival United em pleno Old Trafford] e de apenas um enorme baixo: a
confusão protagonizada pela estrela da equipe, Carlitos Tevez, afastado por
meses após recusar-se a entrar numa partida perdida diante do Bayern, quase
botando a temporada a perder, mas voltando espetacularmente a tempo de
recuperar-se na arrancada final.
Como já vimos antes com o Chelsea de Abramovich, o
Manchester City de Mansour bin Zayed Al Nahyan é um sucesso nos gramados
ingleses. E a volúpia do sheik por contratações parece não ter chegado ao fim.
Ainda mais porque agora os blues parecem um destino bem mais confiável para as
grandes estrelas. Fica no ar um cheiro de déja-vu. Mas que, independente do
resultado do Chelsea no fim de semana, parece um cheiro de incêndio ainda maior
que o causado pelo time londrino. Afinal, quanta juventude e potencial
inflamável ainda temos em Agüero, Tevez, David Silva, Nasri, Balotelli...
E dizem que Al Nahyan, príncipe de Abu Dhabi, tem ainda mais
petróleo pra queimar que Roman Abramovich.
[E esse cheiro de déja-vu, para o bem ou para o mal, parece
não ter fim: ainda vêm aí Paris Saint-Germain e Málaga, empolgados com esse novo
futebol de novos-ricos].
2 comentários:
Onde está o Eike Batista q não compra o Madureira, o Bangu ou o Atlético Mineiro?
e contratar o Jobson pra fazer a do Balotelli.
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